quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
A MORTE DA CONSCIÊNCIA (POESIA NO ESTÔMAGO)
Ano novo. Nada novo. Praça do delírio. Corvo na minha língua. Curvo no seu dorso. Minha saúde ameaçada e isso não é poesia nem viagem literária. É fato. Abandonei o lugar de conforto e vivo submergido nos turbilhões aristocráticos da imobilidade humana. perambulo em infinitos bares, igrejas, reuniões filosóficas a fim de encontrar ventura e abrigo. Tudo que tinha pra dizer já foi dito. Amei. Amei. Ah como amei! Bebi também. Agora quero descansar; um novo lugar... A cerveja gelada no espaço, a agonia esquecida nos botequins da ilusão.
Essa é a última postagem do meu blog. Tudo não passou de águas turvas. Talvez um dia animo e volto a cuspir via rede minhas inquietações... No momento quero encerrar minhas atividades e me entregar ao ócio; -- o capitalismo tolheu meus membros e destruiu todo meu intelecto; não deixarei de escrever, só cansei da exposição e me desnudar por completo dessa maneira tão visual.
Encerro esse blog com um texto do grande poeta marginal Lautréamont:
"Hoje, sob a impressão dos ferimentos que meu corpo recebeu em diferentes circunstâncias, seja pela fatalidade do meu nascimento, seja por minha própria culpa; desalentado pelas conseqüências da minha queda moral (algumas dentre elas aconteceram; quem poderá prever as outras?); espectador impassível das monstruosidades adquiridas ou naturais, que decoram as aponevroses e o intelecto de quem vos fala, lanço um prolongado olhar de satisfação à dualidade que me compõe... e me acho belo! Belo como o vício de conformação congênito dos órgãos sexuais do homem, que consiste na brevidade relativa do canal da uretra e na divisão ou ausência da parede inferior, de modo que o canal se abra a uma distância variável da glande e por baixo do pênis; ou, ainda, como a verruga carnuda, de forma cônica, sulcada por rugas transversais bem profundas, que se ergue na base do bico superior do peru; ou melhor, como a seguinte verdade: "O sistema de gamas, modos e encadeamentos harmônicos não repousa em leis naturais invariáveis, mas é, ao contrário, conseqüência de princípios estéticos que variam com o desenvolvimento progressivo da humanidade e que continuarão variando!"; e, principalmente, como uma corveta encouraçada com torreões! Sim, sustento a exatidão da minha afirmação. Não tenho ilusões presunçosas, orgulho-me disso, e nada ganharia em mentir; de modo que, quanto ao que eu disse, não deveis vacilar em acreditar-me. Pois, como iria eu inspirar horror a mim mesmo, diante dos testemunhos elogiosos que partem da minha consciência?"
Agradeço a todos que leram e comentaram meus textos.
DIEGO EL KHOURI
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A POESIA COMO ARMA DE REVOLTA
“Poesia é a subversão do corpo”. Nada mais que essa sanguessuga chula de luvas de pelica. Baudelaire nos deu a receita. Olhos embriagados, cabelos em desalinho; a poesia contundente é aquela que absorve no ritmo e na forma uma maneira de contaminar o que já é sujo, ampliando a consciência para novos horizontes, abandonando o que não é sentimento para um movimento que seja apenas emoção, nada de razão.
Um bardo sem indignação é como um terrorista sem armas. Não há nenhuma diferença nesses dois lavradores. São todos destruidores. Porcos imundos de uma luxuosidade irônica e cadavérica. Sombras amarguradas de egoísmo e tédio. Passionais místicos, místicos passionais. Filósofos suicidas, rebentos de Nietzche. Palhaços que se mostram e se desnudam e se molestam em praça pública afim de que os demais se regogizem e lancem gargalhadas ao Todo, mostrando que a poesia é um circo de clowns bêbados e sem graça, superiores, medíocres. O terrorista e o poeta: seres de semelhança única, cada um vai desmoronando sua parte. Um no campo objetivo, outro no subjetivo. Porém aquele que verseja é superior. Ele destrói para vislumbrar algo, transcender, elevar a consciência, purificar, mesmo que seja pelas vias sexuais. Caminhar entre o lixo e o luxo. O sublime e o torpe. O carnal e o espiritual. Vivenciar a existência ao lado dos paradoxos.
A arte não constrói nada, apenas destrói matizes. Escrever desesperadamente, desenfreadamente ou perder-se no Nada, fechar os olhos, cessar a voz , o silêncio eterno... Rimbaud no auge dos seus vinte anos de idade abandonou a literatura para viver uma vida aventurosa, conturbada, selvagem e mística. A beleza enviesada e corcunda. A revolta nas artes e sobretudo na poesia é uma maneira de limpar a sujeira vivente, mesmo que seja apenas interior. Em vez de dar a outra face esbofetear o inimigo e cuspir caudalosos caldos de ironia e perversão. Transformar o que é podre em porções sublimes iluminando o mal da face da Terra. Livrar da humanidade todos aqueles que se opuserem as idéias atemporais propostas por Platão. Virtudes, amor, verdade. Eis o que desejamos. Eis o que queremos.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
VERMES NO SOVACO
em ser apenas um poeta cheio de vícios
me transfiguro, me humilho vendo
sujar minha face as sete chagas de Cristo.
Uma agonia traiçoeira dessas que invadem a alma
brotam no meu peito. Na bronha faleço.
Sei que nada vejo a não ser as chagas
que corroem minha alma, me xingam, me matam.
No mato solitário, no breu e sem cachorro
choro atrozmente como uma criança chora.
Dinheiro, emprego, família, tudo tenho
só a paz que não vejo faz tempo.
Numa necessidade filosófica passo horas a fio
dormindo em ventres desnutridos.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
EJACULAÇÕES POÉTICAS
Imobilidade. Palavrinha chata essa que me persegue a alguns anos. Tudo se perde no palimpsesto da memória. A unidade. A bela tríade. O kama Manas insano. Filosofias e orgias. Nietzsche em campos devastados. Torres de ametista. Shakespeare e Tati Quebra barraco enterrados no meu âmago. Tornei-me um exímio sadomasoquista. Nada mais me atinge... apenas esse cansaço... esse pungente cansaço... as grades da prisão... esse cansaço... esse cansaço... Se esquecer em infindáveis putarias assim como os feceninos. 6-9 / 6-9. Peito no falo, falo na boca. Punhetas e Kant. Dostoiévski, grande mistério. Escrevo contra o tempo. Contra Deus e contra o homem. Principalmente contra mim mesmo. Deus é a mentira na face da verdade. Com a mão construímos castelos, com a mente destruímos dogmas. João de Aruanda amo-te mais que o vinho, tanto quanto a poesia! A língua ácida-ardente dos malditos. De Bocage a Rimbaud, passado por Baudelaire, Edgar Allan Poe, Bukowski, Mallarmé, Augusto dos Anjos, Allen Ginsberg, Lautréamont, Genet, Gregório de Matos, Byron, Blake... e tantos outros.
"O homem que faz sua prece, pela noite, é o capitão que põe sentinelas. Pode dormir."
Durmo sim... no ônibus, serviço, nos diversos cursos de arte e filosofia, nos bares, zonas vulgares e depois de uma boa trepada!...
Pintor sem mão, poeta sem mente... cansaço me corroendo, destruindo tudo que ainda permanece em pé, intacto.
Poeta de chinelo perdendo o fio de meada.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
O "POETA MAIOR" EM RESPOSTA AO "POETA MENOR"
o poeta devassado no caminho... entre uma madrugada e outra, entre um pesadelo e outro, na solitude roubando versos no Nada...
Trocando terríveis experiências, o "poeta menor" revela ao "poeta maior" suas dores, suas loucuras, frustações e seus dias à beira da Morte. O iconoclasta perdido entre a corda bamba do desejo e da espiritualidade. Ser morto na imobilidade da existência humana tendo apenas no amor a linguagem, no delírio, na fuga tão desejada e no sexo a válvula de escape fantástica.
Em resposta ao "poeta menor" o "poeta maior" (Glauco Mattoso) revela sua dor e se diz impressionado ao notar que o rapaz além de insubmisso é um sobrevivente. Glauco nunca teve a experiência de ficar dias com a boca no vaso vomitando, dormindo no banheiro vítima de uma cirurgia errada e de uma existência vã, afundado durante um ano nos braços voluptuosos da Morte. Mas em compensação quantos paus teve que chupar para sasciar a sede de moleques que detinham de uma saúde melhor que a sua? Quantos pés chulepentos lambeu sentido o fedor trespassar por entre dedos de micose? Quanta dor sentiu ao ver apenas a escuridão e nada mais?
Entendo seu desespero, rio de sua dor, me regogizo em sua infinita escuridão...
Eis o email de resposta que esse ladrão das palavras me enviou:
Glauco Mattoso
Enviada:
sexta-feira, 18 de setembro de 2009 5:22:25
Diego, o que você me conta foi dose mesmo. Não gosto de comparar sofrimentos, pois ninguém leva vantagem, mas, se eu passei por umas dez cirurgias com anestesia geral, não cheguei a correr os riscos fatais que você correu; por outro lado, você ainda enxerga. Enfim, espero que você tenha superado esses problemas físicos e mantenha uma saúde minimamente estável. O que posso fazer é isso, continuar lhe enviando livros e zines, que nos permittem viajar e desabafar. Até! GLAUCO
///
COMUNICADO À COMUNIDADE
Setembro/2009 - O ensaísta português Pedro Lopes de Almeida, estudioso da obra mattosiana, com quem este poeta mantém correspondência,aproveitou a ocasião, em que o traslado dos restos mortais de Jorge deSenna ocupa o noticiário daquele país, para encaminhar a Mattoso, como refresco da memória, o poema abaixo, que obviamente não poderia escapar a uma parafrase em soneto, colada logo a seguir.
O DESEJADO TÚMULO
Numa azinhaga escura de arrabalde
haveis de sepultar-me. Que o meu túmulo
seja o lugar escuso para encontros.
Que o jovem desesperado e solitário
vagueando venha masturbar-se alí;
que o namorado sem um quarto aonde
leve ao castigo a namorada, a traga
e a force e a viole sobre a minha tumba;
que o invertido venha ajoelhar-se
à beira dela ante quem esperma vende,
ou deite abaixo as calças e se entregue,
as mãos buscando apoio nessa pedra.
Que bandos de malandros alí tragam
a rapariga que raptaram, e
a deixem la estendida a escorrer sangue.
Que as prostitutas reles, piolhosas,
na lage pinguem corrimentos quando
a pobres velhos se venderem lá.
E que as crianças que brincando venham
jogar à minha volta, sem pisar nos cantos
a trampa mais cheirosa do que a morte
e que à memória humana de azinhagas,
alí descubram, mal adivinhando,
as nódoas secas do que foi violência,
ou foi desejo ou o que se chama vício
e as lavem rindo com seu mijo quente
a rechinar na pedra que me cobre
(e regressem um dia a repetí-las).
25/12/1970
Jorge de Senna (in "Visão Perpétua", 1982)
SONETO PARA OS RESTOS DE JORGE DE SENNA [17/9/2009]
No túmulo em que Senna está sepulto
quer ele que o moleque toque bronha,
que o namorado de castigo ponha
a moça, alí estuprada sem indulto.
Que o puto chucro e que o malandro estulto
alí forniquem sem sequer vergonha.
Que alí se beba e fume até maconha.
Que o satanista faça alí seu culto.
Mais pede Senna aos vivos: que a criança
vadia nessa pedra deite o mijo,
zombando de quem nunca alí descansa.
Com ele estou de acordo! Eu próprio exijo
na lápide que deixem, de lembrança
gravando, a sola suja e o falo rijo!
GLAUCO MATTOSO
///
domingo, 25 de outubro de 2009
"POETA DE CHINELO"
Fico grato pelo poema dedicado a mim. valeu mesmo Ivan. Receber um poema criado pela mente fantástica do rei das metáforas é muito gratificante. Melhor definição que já fizeram de minha poesia: "poeta de chinelo" . Concordo plenamente (risos). Valeu!!
O Poeta
[ao Diego El Khouri]
No mundo da alucinose
não tem o quê e nem o onde
crianças giram no carrossel
a noite é o próprio céu
Da conserva concentrada
o porre doce-amargo
não é nada de bebida
é o uno gosto da lume
O lustre do saguão, todo amarelo
"Olha lá, o único de chinelo"
Desinibido pela vida, embalsama o quimero
O mórbido embrião
Suicída!--escuta quieto,
--o instinto de quem tem a vida--
O Poeta de chinelo.
(Ivan Silva)
MELODIA SERENA
Um suave som pela madrugada...
Som translúcido, diáfano
que me corta a alma...
Um som mudo, calado;
- canto orquestral de orgasmo -
cabeça leve, olhos parados...
Que som estranho é esse que invade a alma?
Ó Deus dos reinos incertos
trazei aos meus olhos
a forma real dessa melodia serena.
O canto dos pássaros
o gemido dos corpos eretos
penetrando sem dó na noite intensa.
14,08,2008
terça-feira, 20 de outubro de 2009
PASSIONAL
Do pescoço até a ponta da orelha.
Minha língua penetra tua alma.
Tua alma chora de mansinho.
Vou eliminando adjetivos
perdendo-me em substantivos.
No mundo subjetivo minto
que é verdade o que não acredito.
Você diz que não quer.
Finge que não ouve. Bebo
alguns drinks numa sede sem nome.
Mas só você ouvi: o barulho das taças,
a batida descompassada do coração
numa triste festa cheia de graça.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Meu querido poeta (A Antonin Artaud e seu Teatro do Horror)
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Sem título...
a melodia sublime da Morte.
Desesperadamente, ensandecidamente
choro exibindo na barriga mil cortes.
Com o falo ereto, a mente turva
poeta báquico sinto-me devassado
por essa visão chula que é o refúgio
que tenho para a vida futura.
Se punhetas bati, bati só por não estar aqui
o calor que a noite proclama
e a voluptuosidade que tua voz chama.
A chama queimando nossos corpos.
Minha boca úmida na tua nuca.
Lágrimas escorrendo do meu peito nu.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Luz torpe
e torpe é voz de Deus clamando o povo
que prove de seu amor e na dor
reivindique a ventura que o homem não pode.
Igual Kant me submeto a essa sorte.
Ser para os outros um fracote.
Levantar os muros da virtude
e se perder irremediavelmente na solitude.
Creio assim como os anjos nessa verdade.
Que o ser humano possui paz na maldade
e na bondade a dor inevitável.
Mas mesmo perdido no mundo de ilusões
como Platão prefiro ser amável
com quem cospe na minha cara e corta meus braços.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Confessional
O veneno e a vacina.
Em vez de curar cutucar a ferida
no lombo de Deus, em nome da anarquia.
Eu quero ser a angústia e o pecado.
Quem está de "cara" e quem está chapado.
Ser a dor em suas maiores gradações.
A flor imunda que alimenta nações.
Eu quero ser o filho e o espírito.
A puta e o puto cínico.
O síndico do inferno e também do paraíso.
Ser um escravo de um burocrata louco.
Entrelaçado na divindade, encaixado num porco.
... Mas na verdade sou isso tudo e mais um pouco ...
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Deserto
Mandar à merda quem diz que a tristeza
é o único caminho nessa pobre leveza
que mergulho dia após dia.
Num copo de uísque ou nos contornos
lascivos de tuas coxas gentis
é noite febril o que quero mesmo sabendo
que minha vida mergulha no deserto.
Meio marginal, meio isso, meio aquilo,
meio tudo e meio nada,
ser apenas uma alma apaixonada,
criança etérea que mija na boca
pungente dos deuses subalternos
que dizem que a vida é uma merda.
sábado, 12 de setembro de 2009
A poética da lambida suja
Jean-Paul Sartre
Eu lambo sebo de dente.
Não importa se é branco ou quente.
Lambo como quem alçança o infinito
lambendo partículas de saliva e lombriga.
Poeta de bermuda e chinelo havaiana.
Quero antes a poesia suja
que tenha em seu bioma
versos de uma existência chula.
Amarram os braços e a poesia chupa
melindrosas reticências fúnebres
de quem acredita mas duvida.
Duvido em tudo que você me diz.
Se você quer e não quer
não quero nem saber, vou-me embora daqui.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Entrevistando o poeta
Não pensei ainda.
http://www.rebococaido.blogspot.com/
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Orgasmo contido
de fronte à merda rala. Acabo
de receber voz cagada de deus
unindo-se à viagem confusa.
Fome, frio, sede, ânsia, volúpia.
Caralho inchado, olhos de cão.
Um pão vertiginoso de orgasmo.
Você vem contente à minha desgraça.
Cobrimos nossas vestes de cachaça.
Tua falsidade afasta
quem é voluptuosa de verdade.
Tumor alojado no peito apaixonado.
Entrego-me à devassidão macabra
comendo fezes numa tarde ensolarada.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Flores Pubianas
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
As pegadas do amor
sábado, 29 de agosto de 2009
À poetas de pele e osso (profetas da palavra)
I
Ao Vincent Junior
Poeta báquico de olhos cristalinos
teus versos fermentam meu íntimo
de delírio e filosofia
dentro de uma paisagem cheia de vida.
Amante bastardo do antropofagismo
devoro loucamente teus escritos.
Exprimo e imprimo infinitas reticências
afim de saciar meus instintos.
Malogrado numa visão aristotélica
absorves todas as raízes dessa merda
imprimindo e exprimindo novas idéias.
Eleito dos eleitos subalternos
tens a elegância que não espero num poeta
enquanto eu, chulo, insisto em escrever versos.
II
AO POETA-METÁFORA
Ao Ivan Silva
Uma flor pequenina no meio do jardim
solitária se afasta de sua casa.
O vento branda nas encostas.
Montanhas erguem-se do campanário.
Parece que de detalhes vive
a poesia desse jovem rapaz.
Algoz e carrasco da linguagem
cria, recria novas palavras.
Um poeta de pele e mente sã
sabe que a Morte vem pra clarear
a fragilidade dessa vida vã.
Mas perdido em toda essa solitude
transportado em seus versos lindos...
Rei da Metáfora, envergonho-me do meu instinto suicida.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Ao bruxo
Amamos essa visão "lúdica" e "ingênua"... Desde a época dos gladiadores. Temos prazer em ver o outro sofrendo, sendo humilhado, pisoteado. Hoje em dia isso se prolonga nos filmes de ação. É uma maneira de esconder nossa dor. Vislumbramos seres "piores" do que nós e direcionamos nossa fúria neles. Foi com esse pensamento e essa revolta seguida de ironia que enviei um email ontem para o poeta Glauco Mattoso. A história de um poeta jovem sem editora, sem métrica que violenta seu mestre e o humilha loucamente sem compaixão alguma por este ser cego e impotente, portanto, sendo um bicho e não homem.
Um maldito ferindo outro maldito. Preso em sua eterna dor, ausente de toda paz.
Email: Ao Bruxo
segunda-feira, 24 de agosto de 2009 13:23:04
Tarde quente. Segunda-feira brava. Enfim sobrevivi a mais uma noite de excessos. Em meio a madrugada escrevi dois sonetos pensando em sua obra. O poeta de 23 anos de idade sem métrica e rima perdido em uma cidade distante do interior de Goiás vomitando na cara do cego masoquista a indignação por esse ser ver além, muito além de nós.
O homem no fundo é um escravocrata. Precisa encontrar alguém cuja dor é maior pra lançar sua raiva, sua ira. Nesse ponto concordo com Victório. Oscar Wilde, pelo que li muito tempo atrás, dizia que nós seres humanos sentimos esse certo prazer na dor do próximo mas não nos apiedamos com o próximo. Apenas em sua dor. Somos no fundo egoístas. Não estamos preparados para aceitar a diferença. Isso é lamentável. Sonho com um mundo onde a minoria será ouvida e essa merda será apenas um grupo excluído, portanto os excluídos de hoje passando a ser os incluídos (risos).
Aí segue-se os sonetos enquanto recomponho-me do álcool (mais risos).
Até mais!!!
DIEGO EL KHOURI
AO BRUXO COM CARINHO
I
Poeta em ditirâmbicos olhares
sem métrica, rima, cadência ou samba
sabe que para fugir dos lugares
deve aventurar-se na corda bamba.
Dança dos aleijados da existência
teu cântico é febril, louco, latente,
a volúpia Sagrada e inconsequente
de quem xinga a Deus sua deficiência.
Come (!) como um profeta em fúria sã
o cão sublimar de loucos orgasmos
da pobre desordem da vida vã.
E sejas p'ra mim somente esse cego
preso na sorte da vida cristã
alimentando-se de porra e ego.
II
Chupa, Glauco, como quem goza a vida.
Entre tapas coloca minha mão
na tua bunda branca e na despedida
ó bardo, colhe flores na ilusão.
Você não passa de um cego roubando
aquilo tudo que tenho e não tenho.
Louco, inconformado pois eu não venho
na vida torpe roubar o passado.
O passado que para mim era triste
e vivo a vida vivendo o presente...
Você cego vive o que nós não vemos (...).
Nós profetas bêbados não movemos
nosso pau duro, hirto, quente, demente.
- Temos somente esse triste presente - .
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Comunicação
Anotei
O Sylvio Back é meu amigo e também bom poeta fescenino. Na verdade, a opinião dele sobre erotismo e pornografia reafirma o que já se diz faz tempo, mas eu nem faço tal diferenciação, pois misturo tudo quanto é ingrediente politicamente incorrecto na minha estética, resultando daí algo que não se enquadra nos limites genéricos, tal como a obra de muitos autores que você cita.
Tenho, sim, sido objeto de teses acadêmicas, mas elas apenas argumentam com fundamentação teórica o que acabei de dizer na frase acima. Até que a universidade ultimamente tem feito justiça aos"malditos" vivos... (risos)
Fico no aguardo do zine e de outras amostragens, e depois comento, tá? Lambidas na sola e outro abraço do GLAUCO
///
Diego, só não quero que você se prejudique por usar o computador no local de trabalho, hem? (risos)
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A terça-feira é Gorda só se for
de, grossa, encher um trecho alagadiço...
Na volta, aumenta a chuva, a rua alaga...
Aquele caso das lésbicas foi real, foi um moleque vizinho aqui do condominio que me revelou.
GLAUCO
A quem exclama o outro: "Isto eu não transporto!"
Às vezes, triste a vaguear me vejo,
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Até! GLAUCO
///
Até! GLAUCO
///
A terça-feira é Gorda só se for
a véspera de Cinzas. Fora disso,
a sorte será magra ao sofredor
que sai, na afobação, para um serviço...
Estando engarrafado o corredor
dos ônibus, tem ele um compromisso
urgente, mas a chuva faz favor
de, grossa, encher um trecho alagadiço...
Molhado, esbaforido, o cara chega
depois que sua vaga já foi pega
por outro candidato, e roga a praga...
Coitado! Para a próxima entrevista
a data cai na terça... Ele que insista
até que o clima mude e sorte traga...
///
sábado, 1 de agosto de 2009
MANIFESTO EM FAVOR À POESIA MARGINAL
O amor é o gosto pela prostituição. Nem há prazer nobre que não possa ligar-se à prostituição.
Num espetáculo, num baile, cada um goza de todos.
Que é a arte? Prostituição.
O prazer de estar nas multidões é uma expressão misteriosa do gozo da múltiplicação do número.
Tudo é número. O número está em tudo. O número está no indivíduo. A embriaguez é um número."
Começo esse ensaio sobre poesia marginal com esse pensamento encontrado no livro Meu coração desnudado do grande poeta maldito Charles Baudelaire, autor de livros como As flores do mal, Escritos sobre arte e Paraísos Artificiais - o haxixe, o ópio e o vinho. Textos concebidos sobre a condição de poeta perdido e açoitado em um mundo capitalista e pragmático.
Fixado nessa cadeira alimentada por inúmeros cupins e com um saboroso vinho tinto na mão direita tento esboçar idéias que para muitos (sobretudo uma classe acadêmica e necrófila) são apenas desvios de uma mente atormentada e desesperada; resultado de uma infância humilhante e uma juventude à beira da morte. A poesia é existência. É entregar-se a vida. É dor e prazer, realidade e loucura. Essa correlação de vida e poesia não pode dissociar. Ela inclusive nasceu nessa idéia; primeiro com os trovadores, depois com os burgueses da corte, passando pelos profetas, em seguida os boêmios, e por fim os jovens universitários moribundos e sem pele. "Escreves com sangue e verás que o sangue é espírito." Expulsa do seu corpo versos como vomita sêmen numa noite tumultuosa. "A poesia é a metralhadora na mão de um palhaço". É preciso penar muito para chegar a sua essência. Aprendemos isso com os poetas fesceninos. O erotismo, uma válvula de escape fantástica. Poeta de bermuda e chinelo havaiana.
Seguindo nessa linhagem de literatura intensa e até mesmo orgiaca num ensaio do cineasta e também poeta fescenino Sylvio Back intitulado A poesia das Inevitabilidades ele diz que o poema erótico nasceu nas mãos criativas de Goethe, Baudelaire, Rimbaud, Whitman, Apollinaire, Valéry, Verlaine, Kafávis, Pierre Loÿs, Boris Vian, sendo sancionada por toda a sociedade manipuladora, pela mídia, editores, livrarias e os tão aclamados "críticos virtuosos". Sempre os críticos, os críticos... Em 1807 em uma época de calorosas revoluções, o homem começando a sentir-se oprimido e desafiado pela máquina o inglês Lord Byron lança um livro cujo título "A Hora do Ócio" chocou os chamados seres sem pele, arrasando o jovem rapaz devido as críticas duras em relação ao seu primeiro trabalho. Em seguida revoltado e com tom de ironia publica "Bardos Ingleses e Críticos Escoceses"! Precisamos alimentar as vísceras desses tolos sangue-sugas - noites de porre, madrugadas de absinto. O marginal é aquele ser bárbaro, posto em escanteio sem dó nem piedade. Muitas vezes por vontade própria. "A marginalidade é formada por aqueles que estão 'out' - aqueles que não tem acesso ao poder estabelecido involuntariamente por miséria, ou voluntariamente por escolha estética religiosa", já dizia o profeta do caos Timothy Leary.
Higiene, conduta e moral. A poesia está nos tempos atuais recheada de lirismo hipócrita e versos gentis. Uma volta ao parnasianismo; escrever de forma amena dentro da forma clássica inspirada nos gregos, ou seja, não importa o "eu- emocional" apenas o "eu-pensante". Isso está muito relacionado também com a poesia-objeto de João Cabral de Mello Neto. Denovo a forma valendo mais que a intuição e a inspiração. Sou mais Roberto Piva que demora sempre em média dez anos pra publicar uma obra, pois ele acredita naquela idéia de inspiração, de santo baixando mesmo. A idéia do choque e do susto. Ver por exemplo uma mancha em um banco de praça o dia todo e viajar em suas formas, se perder em seus desenhos, se ocultar em seus contornos. Daí nasce a linguagem poética. "O poema nasce do espanto e o espanto do incompreensivel." Por isso insisto, marginal é quem escreve à margem apenas por não vender sua arte a uma classe intelectual e acadêmica que vivem coçando seus cus atrás de mesas com mil canetas no bolso e nenhuma coragem nas ações. "O poeta tem que cair na vida, deixar de ser brocha pra ser bruxo". "O poeta é um vidente". Com Rimbaud aprendemos isso, com Wiliam Blake as famosas "portas da percepção" e com Ginsberg o êstase búdico. Desvencilhar o que é frágil e criar uma arte para poucos mas com muito conteúdo. Também acredito em você, Piva. Infelizmente seu dizer tem verdade, tem conteúdo. "A poesia sempre será uma arte minoritária." Cabe a nós, seres excluídos e ausentes de toda "moral puritana" cultivar a pele, o pelo e a exaltasão dos sentidos. Os estados alterados da consciência que um tal de Salvador Dalí (baseado nos estudos de Freud) nos ensinou com seu surrealismo real e vertiginoso, delirante, eterno.
"A poesia é a orgia mais fascinante ao alcance do homem". André Breton.
Comecei esse texto depois de uma conversa com um conhecido meu. Falavámos de literatura, de Kafka a Machado de Assis, passando pelos filósofos e música popular. No meio de uma conversa comecei a falar de gênios como Rimbaud, Mallarmé, Leminski, Allan Poe... portanto sobre poesia.
O que me chamou a atenção foi algo que ele disse que ficou na minha cabeça a noite toda. O pragmático rapaz disse com seu falar racional: "a poesia, mesmo a marginal sempre terá um caráter fresco." Ah que triste afirmação ele disse!! talvez porque nunca leu Allen Ginsberg e nada de poesia beat, simbolista, fescenina, concreta... Aqueles deuses da linguagem que chocaram toda uma sociedade com seus versos e atitudes. Veja por exemplo em 1956. Recital de poesia com os escritores beatniks em um salão recheado de bebida e excentricidades. Quando Corso (aquele poeta que mais tarde numa noite de escessos incentivaria o roqueiro Jim Morrison a publicar seu livro) recitava seus textos em meio a reprovações de um bêbado lunático. Ginsberg educadamente pediu que ele fizesse silêncio. O estorvo não cessou seu dizer sem lógica. Allen novamente pediu por favor e nada. Revoltado ele perguntou ao bêbado o que ele queria e este repondeu que queria "nudez". O poeta então se desnudou por completo e o bebum sob vaias saiu sem graça do ambiente e Ginsberg ovaciondo pelo povo. Ou então numa noite enquanto se masturbava ele lia um verso do poeta-profeta-vidente William Blake que dizia isto:
Ver um mundo num grão de areia
E o céu numa flor selvagem
Segurar o infinito na palma de sua mão
E a eternidade numa hora.
Nesse momento o poeta beat ouviu a voz do próprio Blake dizendo esses versos e ele percebeu que deveria continuar nessa linhagem de poeta-profeta. Rimbaud abrigado pelo também poeta Verlaine viajou durante todo o dia numa mancha na parede sendo expulso da casa e passando a perambular por semanas com os mendigos da praça Maubert. Certa vez chegou a se enclausurar numa noite em um armário para aprender a falar árabe e alemão. É desse tipo de vivencia que necessitamos. "Não acredito em poeta experimental que não tem vida experimental." É preciso roubar o infinito, entrar e sair de todo sistema. Vomitar na mesmice seu mais secreto sentimento. É preciso viver, viver, mais do que isso viver, viver...
"O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramentos de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota neles todos os venenos para só guardas as quintessências. Indizível tortura na qual ele precisa de toda a fé, de toda a força sobre-humana, onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito - o supremo Sábio! - Pois ele chega ao desconhecido!" Todo poeta deveria seguir na íntegra essa máxima de Rimbaud. Ser vidente. "O poeta é mesmo ladrão de fogo".
Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à paisagem.
Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.
Paulo Leminski
Agora escrevo a tão prometida lista dos dez livros de poesia contundente para iniciados nessa arte. Isso é pra você que falou que poesia sempre terá um caráter fresco.
Segue-se aí:
01- O Matrimônio do Céu e do Inferno -
Autor: William Blake.
Livro publicado em 1790.
Obra com caráter profético, de um escritor que preveu a morte de seu mestre em gravuras, e que aos nove anos de idade viu Deus da janela e anjos brincando nas árvores. Livro espiritualista com caráter pagão. É dele essa frase: "O caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria."
02 - As flores do mal -
Autor: Charles Baudelaire.
Obra datada de 1857.
Livro que contém 100 poemas que uma visão mórbida desnudando as atrocidades e desgraças do mundo em forma de versos. Sendo acusado de ultrajar a moral pública seus exemplares são apreendidos e obrigado a pagar uma multa. Influenciou toda a literatura que veio depois dele.
03 - Uma Estação no Inferno -
Autor: Arthur Rimbaud.
Escrito por volta de 1873.
Livro que retrata a fase de loucura e busca espiritual que Rimbaud viveu na primavera em Charleville (França). Gênio que abandonou a literatura aos 21 anos de idade vivendo uma vida
inimitável e intensa. Chegando a contrair uma febre tifóide por excesso de caminhar a pé. Foi também líder de um exército árabe, se apaixonou por uma nativa da Abissinia, trabalhou com armamento bélico, diz ter ouvido em sonho aos 16 anos de idade o deus Apolo dizendo para ele ser poeta e morreu aos 34 anos de idade, deixando um legado importante para a arte. Participou de várias viagens poéticas que influenciariam o século seguinte: viagens, drogas, verso livre, rebeldia... Um marco zero na literatura mundial.
04 - A hora do Ócio -
Autor: Lord Byron.
Escrito em 1807 pelo boêmio inglês influenciado toda uma sociedade, inclusive a segunda geração do modernismo ( o mal do século) com Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e companhia.
05 - Eu -
Autor: Augusto dos Anjos.
Publicado em 1912.
Influenciado pelas idéias do filósofo pessimista Schopenhauer lança um livro de poesias dentro de uma estrutura clássica e visão mórbida. A faculdade de Medicina do Rio do Janeiro adotou seu livro devido aos termos científicos.
"Beija nessa boca que te escarra." Forte, profundo.
06 - Uivo -
Autor: Allen Ginsberg.
Publicado: 1955.
Um dos representantes da geração beat, seu livro choca fundindo budismo e sacanagem, espírito e carne. Recomendo. Uma porrada na alma.
07 - Antologia Poética -
Manuel Maria du Bocage.
Recomendo qualquer livro desse marginal por excelência. mas comecem com a antologia poética.
Muito bom!!
08 - Paranóia -
Autor: Roberta Piva.
Publicado em 1963.
Uma releitura tardia ( depois de 40 anos) de Paulicéia Desvairada de Mario de Andrade. Poeta xamã e orgiaco. Ele nos revela com seus versos uma São Paulo caótica e desesperada. Aqui o caos, devido a época, é mais exacerbado do que o Mário.
"Eu sou uma metralhadora
em estado de graça
eu sou a pomba-gira do absoluto."
Em uma de suas definições. Mistura de lirismo e palavrão.
09 - Faca Cega
Autor: Glauco Mattoso.
Herdeiro de uma tradição de Bocage, Gregório de Matos e Marquez de Sade esse livro revela o seu próprio desespero de ter ficado cego aos 40 anos de idade. Poeta importante na cena brasileira e mundial com mais de 3000 mil sonetos escritos, isso mesmo depois da cegueira.
10 - Gregório de Matos.
Achem qualquer livro desse cara. Poeta da colônia-Brasil. O mais marginal de todos.
Se não acharem nenhum, leiam o Boca do Inferno da Ana Miranda que tem ele e o frei Vieira de Souto como personagens. Chocou a sociedade, desafiou a igreja.
No mais é isso. Leiam, leiam
mas sobretudo vivam intensamente sem pudor, sem moral, sem regras, sem leis.
# 17 SÁDICO (1999)
(Glauco Mattoso)
Legal é ver político morrendo
de câncer, quer na próstata ou no reto,
e, p'ra que meu prazer seja completo,
tenha um tumor na língua como adendo.
Se for ministro, então, não me arrependo
de ser-lhe muito mais que um desafeto,
rogar-lhe morte igual à um inseto
na mão da molecada vai sofrendo.
Mas o melhor mesmo de tudo é o presidente
ser desmoralizado na risada
por quem faz poesia como a gente.
Ele nos fode a cada canetada,
mas eu, usando só o poder da mente,
espeto-lhe o loló com minha espada.
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