terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ao bruxo

Há uma necessidade de bode espiatório. Nós seres ainda presos no Kama Manas (mente dos desejos, onde reside a parte instintiva de todos nós) vemos o mundo por esse viés. Gigantes torturando ratos de laboratório. Seres afixionados em sua loucura. Torturados pela existência.

Amamos essa visão "lúdica" e "ingênua"... Desde a época dos gladiadores. Temos prazer em ver o outro sofrendo, sendo humilhado, pisoteado. Hoje em dia isso se prolonga nos filmes de ação. É uma maneira de esconder nossa dor. Vislumbramos seres "piores" do que nós e direcionamos nossa fúria neles. Foi com esse pensamento e essa revolta seguida de ironia que enviei um email ontem para o poeta Glauco Mattoso. A história de um poeta jovem sem editora, sem métrica que violenta seu mestre e o humilha loucamente sem compaixão alguma por este ser cego e impotente, portanto, sendo um bicho e não homem.

Um maldito ferindo outro maldito. Preso em sua eterna dor, ausente de toda paz.

Email: Ao Bruxo
segunda-feira, 24 de agosto de 2009 13:23:04

Tarde quente. Segunda-feira brava. Enfim sobrevivi a mais uma noite de excessos. Em meio a madrugada escrevi dois sonetos pensando em sua obra. O poeta de 23 anos de idade sem métrica e rima perdido em uma cidade distante do interior de Goiás vomitando na cara do cego masoquista a indignação por esse ser ver além, muito além de nós.

O homem no fundo é um escravocrata. Precisa encontrar alguém cuja dor é maior pra lançar sua raiva, sua ira. Nesse ponto concordo com Victório. Oscar Wilde, pelo que li muito tempo atrás, dizia que nós seres humanos sentimos esse certo prazer na dor do próximo mas não nos apiedamos com o próximo. Apenas em sua dor. Somos no fundo egoístas. Não estamos preparados para aceitar a diferença. Isso é lamentável. Sonho com um mundo onde a minoria será ouvida e essa merda será apenas um grupo excluído, portanto os excluídos de hoje passando a ser os incluídos (risos).

Aí segue-se os sonetos enquanto recomponho-me do álcool (mais risos).
Até mais!!!
DIEGO EL KHOURI

AO BRUXO COM CARINHO

I

Poeta em ditirâmbicos olhares
sem métrica, rima, cadência ou samba
sabe que para fugir dos lugares
deve aventurar-se na corda bamba.

Dança dos aleijados da existência
teu cântico é febril, louco, latente,
a volúpia Sagrada e inconsequente
de quem xinga a Deus sua deficiência.

Come (!) como um profeta em fúria sã
o cão sublimar de loucos orgasmos
da pobre desordem da vida vã.

E sejas p'ra mim somente esse cego
preso na sorte da vida cristã
alimentando-se de porra e ego.

II

Chupa, Glauco, como quem goza a vida.
Entre tapas coloca minha mão
na tua bunda branca e na despedida
ó bardo, colhe flores na ilusão.

Você não passa de um cego roubando
aquilo tudo que tenho e não tenho.
Louco, inconformado pois eu não venho
na vida torpe roubar o passado.

O passado que para mim era triste
e vivo a vida vivendo o presente...
Você cego vive o que nós não vemos (...).

Nós profetas bêbados não movemos
nosso pau duro, hirto, quente, demente.
- Temos somente esse triste presente - .

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Vc se superou, mas é impossível...e vc mesmo disse:"viajo demais nas idéias... as palavras vagueiam como um barco à deriva ou a imagem de um cego dirigindo um carro a 180 km/hr" rsrs..achei o tendão do cego aquiles...
    A forma como fere esse grande poeta, é de maldito pra maldito...não sei qual dos dois é mais.hahah

    Cada vez mais escreve melhor.

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  3. Nuss...

    A "aprendiz" de poeta aqui ficou sem palavras!
    Simplismente perfeito... rima, métrica, lirismo, bohemia e ainda mais um pouco de tudo que á de bom na sua escrita!
    Parabêns poeta!
    E nem vem, poeta sim senhor! hahahaha...

    =D

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  4. Caramba ta de sintonia com Glauco poeta!!!
    =)
    e o zine?

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  5. Cara muito bom!!!
    Li arrepiando hehehe!
    Bjxs!
    =D

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