segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Entrevistando o poeta


Recebi nessa última sexta-feira dois fanzines enviados pelo escritor Glauco Mattoso. Um deles é um zine informativo chamado O Berro que está na oitava edição e que contém matérias bastante interessantes enfocando o mundo underground com maestria necessária que um informativo marginal deve ter. Nessa edição os membros do fanzine discorreram sobre anarquia, a influência da mídia na cultura, a evolução da escravidão e o surgimento das favelas no Rio de Janeiro.
Transcrevo aqui uma intrevista encontrada nesse fanzine com Glauco Mattoso feito por Fabio da Silva Barbosa.
A linguagem original mantenho, pois assim o poeta no começo da conversa adverte para que a sua "escrita não seja mexida". Diferente dos emails que ele me enviou e coloquei no blog; tive trabalho de corrigir cada um deles, perdendo o caráter original, portanto perdendo a qualidade. Coisa que não faria denovo.

Agora segue-se a entrevista:

Entrevistando o poeta
Por Fabio da Silva Barbosa

Ele é poeta, ficcionista, ensaísta, colaborou com diversos veículos de informações, como a inesquecível revista em quadrinhos Chiclete com Banana e tirou seu nome artístico da doença que o cegou. Sabem quem é? Não poderia ser outro, senão o grande Glauco Mattoso.

Como foi despertar para a arte?

Fallando em despertar, faço logo um alerta: só escrevo pela antiga orthografia e quero que minha escripta não seja mexida, certo? Accordei para a arte porque desde creança vi que minha janella para a vida commum seria fechada pela cegueira progressiva. Foi uma sahida existencial, uma escapatoria.

Qual o principal papel da arte em sua vida?

Antes de mais nada, evitar o suicidio, ou o alcoholismo, ou as drogas mais letaes. De quebra, a arte rendeu algum tesão... (risos)

O que é underground para você?

Para quem ja escreveu na peripheria e desde cedo foi sacco de pancada da molecada, ser "underdog" na vida ou "underground" na arte faz pouca differença... A marginalidade, social ou litteraria, veiu a ser meu proprio habitat.

Como foi trabalhar o alternativo na época da ditadura?

Por ser a unica via livre de censura, a imprensa nannica offerecia um illimitado universo creativo. Meu zine anarchopoetico, "Jornal Dobrabil", fez coisa que nenhum grande orgam impresso podia fazer em termos de linguagem, diagrammação, conteúdo, emfim, foi um vehículo de communicação de facto.

Glauco, careta em relação às suas obras?

Minha philosophia de vida é o paradoxo. Acho que todos somos poços de contradição, mocinhos e bandidos ao mesmo tempo. Portanto, nada de extranho no facto de eu ser mais louco como personagem que como pessoa.

Você se venderia para ter uma vida mais confortável?

Através da historia, e em muitas regiões do mundo, os deficientes foram escravizados ou tiveram que se prostituir para sobreviverem. Si eu tivesse na India, provalvemente seria massagista e chupador para ganhar o pão. Aqui posso me dar o luxo de ser massagista e chupador para ganhar inspiração nos sonetos ou contos... (risos) Mas isso não significa que eu assignaria contracto com uma editora commercial que me pagasse bem mas me exigisse radicaes mudanças de estylo.

O atual panorama político brasileiro e mundial segundo o poeta:

Ja versejei demais o scenario politico, particularmente no livro "Poetica na politica", e tenho commentado a respeito em minha columna na "Caros Amigos". Não ha o que accrescentar: fallar de merda sempre foi minha especialidade.

A tese que trocamos a ditadura militar pela do capital é verdadeira?

Sim, mas na verdade nunca a trocamos. A dictadura economica é permanente. Apenas a militar foi addicionada a ella durante aquelle periodo.

O ser humano se entregou à alienação?

Pode ser, mas ha varios typos de alienação, umas damnosas, outras gozozas. Phantasias sexuaes, mesmo as minhas, que são sadomasochistas, podem ser boa estrategia para compensar as difficuldades practicas. Ja a desinformação é a peor forma de alienação, da qual fujo como o Diabo da cruz.

Seu epitáfio.

Epitaphio? Vira essa boca pra la!
Não pensei ainda.
Talvez na hora de morrer eu decida.
Mas seria algo como "Aqui jaz alguem que jamais soube o que dizer da morte e só fallou mal da vida"... (risos)

*A foto é um desenho tirado do fanzine poético-panfletário Jornal Dobrabil

*entrevista retirada do fanzine O Berro. Blog:

http://www.rebococaido.blogspot.com/

2 comentários:

  1. VALEU MEU MAN0.
    MANDA UM ZINE DESSE SEU AÍ PARA NOSSA CAIXA POSTAL.
    ANOTA MEU E-MAIL TAMBÉM: fsb1975@yahoo.com.br
    VAMOS FORTALECER ESSE CONTATO.
    CHEGANDO OS SEUS, MANDAREMOS O BERRO PARA O MESMO ENDEREÇO DO ENVELOPE.
    PARABÉNS PELO BLOG.
    FABIO DA SILVA BARBOSA

    ResponderExcluir

Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
Sou um ser alienado na busca do Sagrado