sexta-feira, 13 de novembro de 2009

EJACULAÇÕES POÉTICAS




Desprendendo-se do céu como uma abóboda de reflexos a própria existência ensanguentada enfileirada numa redoma de cristal grita seu último suspiro de paz e ventura rumo aos desejos incertos, o amor distante, a vida além do que se vê. Ninguém move montanhas. Movemos toneladas de concreto com o falo ereto, a mente em frangalho, o peito baleado, a poesia crua e chula contra todas as ordens. Somos o resultado do cansaço, das olheiras fundas devassada sobre livros e livros perdido em coxas lascivas das deusas da noite. Pintor de mão calejada. Alma submersa em volúpia e transgressão. Eis o que a história nos negou. O princípio e o fim. Poeta de chinelo perdendo a compostura, o ritmo e a forma. Há uma certa nojeira em tudo que nos rodeia. Me sinto uma prostituta de marca maior. Uma verdadeira prostituta. Uma puta devassa. Corrupto ladrão dos próprios princípios. Sêmen esgotando a última hora do dia do último mês da última morada de Deus. Percebo que o desespero não será mais um amante no dia que conseguir ler o paraíso de Dante. A última parada dos 3 inframundos. Beatriz sempre será uma ilusão. O inferno é bem aqui. Em minhas vísceras, minhas axilas.

"Ser um homem sério sempre me pareceu algo muito nojento." "Foi pelo ócio que eu, em parte, cresci." Como em um rio turvo na direção contrária com os punhos cortados a frase fixa em meu inconsciente. Vomitar, se expor mostrando todas as chagas, toda a epiderme, feridas que nunca cicatrizam. Que diga a minha barriga! Baudelaire então nem se fale. A embriaguez da humanidade faz festa nas minhas entranhas. Bagos em uso constante. Mergulhar num abismo sem volta. O amor inspira a sociedade e violenta a própria sociedade com suas mentiras e mesquinhez. Dar o cu em troca de dinheiro. Corromper no serviço em troca de dinheiro. Vender-se em troca de dinheiro. Se gentil em troca de dinheiro. Ser sorridente em troca de dinheiro. Mover-se e mover-se em troca de dinheiro, dinheiro, dinheiro. Enfim morrer para que outros vivam. Eu choro enquanto você, caro leitor, ri de minha dor sádica. Cansado. O peso das pálpebras sufoca minha alma. Arranco minhas roupas todas, tenho sede violenta, inunda minha face de lágrimas e tesão; é apenas o sono nas horas erradas. Pintor de mão calejada. Um dia segurarei num pincel sem o peso dos calos... As horas trabalhadas me impossibilita ser um artista plástico equilibrado, sou um excêntrico. Abraçarei minha mãe sinceramente e direi: "TUDO ACABOU! TUDO ACABOU! ESTOU LIVRE!!" e logo perceberei que tudo valeu a pena, que os porres nas noites turbulentas foram apenas doces delírios e os desencontros meros acasos da existência.

Imobilidade. Palavrinha chata essa que me persegue a alguns anos. Tudo se perde no palimpsesto da memória. A unidade. A bela tríade. O kama Manas insano. Filosofias e orgias. Nietzsche em campos devastados. Torres de ametista. Shakespeare e Tati Quebra barraco enterrados no meu âmago. Tornei-me um exímio sadomasoquista. Nada mais me atinge... apenas esse cansaço... esse pungente cansaço... as grades da prisão... esse cansaço... esse cansaço... Se esquecer em infindáveis putarias assim como os feceninos. 6-9 / 6-9. Peito no falo, falo na boca. Punhetas e Kant. Dostoiévski, grande mistério. Escrevo contra o tempo. Contra Deus e contra o homem. Principalmente contra mim mesmo. Deus é a mentira na face da verdade. Com a mão construímos castelos, com a mente destruímos dogmas. João de Aruanda amo-te mais que o vinho, tanto quanto a poesia! A língua ácida-ardente dos malditos. De Bocage a Rimbaud, passado por Baudelaire, Edgar Allan Poe, Bukowski, Mallarmé, Augusto dos Anjos, Allen Ginsberg, Lautréamont, Genet, Gregório de Matos, Byron, Blake... e tantos outros.

"O homem que faz sua prece, pela noite, é o capitão que põe sentinelas. Pode dormir."
Durmo sim... no ônibus, serviço, nos diversos cursos de arte e filosofia, nos bares, zonas vulgares e depois de uma boa trepada!...
Pintor sem mão, poeta sem mente... cansaço me corroendo, destruindo tudo que ainda permanece em pé, intacto.

Poeta de chinelo perdendo o fio de meada.

2 comentários:

  1. Ao dizer que penso como vc,
    inigualável, notável, menos(eu)penso,
    menos salvo...o fio de meada..."minha" metáfora não vale nada.

    ...o problema do mundo,
    é não saber disso tudo, a poesia não fala, mas tem uma voz além do absurdo.

    vc, poeta.

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  2. Simplismente perfeito...

    Sua poesia não fala, ela grita!
    E vc poeta não escreve, descreve, cria, borda, pinta, sonha e vive o que escreve.

    Maravilhoso!

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