sábado, 11 de julho de 2009

Ludwig van Beethoven



Do lado de fora da cortina onde os sentimentos dormitam fazia um frio terrivel. Frio latente e sem emoção. Frio poético e metafísico. Mas ao mesmo tempo esse frio (andrógino e suicida) feria a alma e encurralava o coração em suas paragens gélidas e sem carinho, sem nenhum pudor, sem compaixão alguma. Era uma luta desmedida e brutal de pensamentos! Agora o sol se ergue do arrebol, sua luz transita tesouros e seus impulsos (nada sensatos) abraçam o infinito como o último trovoar do poeta em direção a luz ou então o abismo, aquele mesmo que Dante transitou para alcançar sua amada Beatriz e em seguida o paraíso, até por fim embarcar nas estrelas e sentir o gosto real da existência venturosa sem muita dor e desespero.
Eu ao contrário sinto-me perdido como um barco sem vela, um estrageiro sem pátria, um rei sem reinado, um amante sem alcova, um ente demente e diferente da ordem máxima da civilização: cordial e bem sucedida. Não sei o que pensar, o que dizer. Parece que minha escrita delinha para um outro caminho. Difuso e complexo. Sem ritmo, norte, métrica. Sou isso e mais nada. Não sei mais o que dizer. Que estilo seguir. "Escrevo pra fugir de mim mesmo". Toda vez ao olhar para o espelho me assusto com a pessoa que vejo. Um alguém sem alma, doente e com um vazio tremendo no coração. Não entendo esse meu dizer. Vou escrevendo sem olhar para trás. Sem corrigir palavras, sem moldar a forma. Sou um anjo decaído, caído, afundado na lama que tem apenas de seu os excrementos que vomita após noites de porre e de lirismo. Acredito na libertação através da busca do desconhecido. Alguns morrem, outros vivem. Para o filósofo a libertação é a Morte. Pronto! Mais uma vez escrevendo versos, pedaços de crônicas sem mesmo saber ao certo qual a profundidade do que está sendo dito. A minha alma lança germens e esses germens alimentam a alma e a alma já não é mais alma pois ela se perdeu na corrida da felicidade transando com a essência transitória do pecado. Pouco falta para me destruir. Quero o fim de tudo! De cristãos a sacristãos, ateus, filósofos, patrões e operários! Principalmente patrões e operários. Inclusive a cara gorda do capitalismo e sua masturbação de mil euros. Puta que pariu! Sei que ninguém gostará desse texto. Há algo de pessimista em suas linhas. Cansei. Cansei... a condição de escravo... de prisioneiro... de gratidão... de desespero...
E essa arma aí em cima? em cima da escrivaninha do quarto? umas doze balas parece... uma basta pra derrubar o sugeito de vez... as balas estão em cima e o demônio do lado. - O tempo está acabando! Diz o homem da lan house. Meu espírito sente a melodia. A música envolve minha alma, vibra meu corpo. Meu pelos dançam ao seu ritmo sublime e transcendental. Ah como é bom! sentir a música! Ludwig van Beethoven. Me dá tanta calma. Tanta paz. Estou longe do ponto de ônibus e mais longe ainda do serviço. Ainda bem. Mais que paz estranha é essa! Parece que Deus conversa comigo. Com sua melancolia e sua embriaguez desnorteada. "A virtude original do Homem". Apanho a arma, lentamente minha mão e dedos a envolve.
Mergulho na voz e novamente vou ouvir a sinfonia....
A bela e inesquecivel sinfonia...
Grande Beethoven... infinita desordem...
Terrivel destino.

4 comentários:

  1. Quando vc disse que tinha escrito um texto ruim, eu não acreditei, até contestei...como eu disse todos são bem escritos, e eu acredito neles.

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  2. Perfeito!
    Como sempre...
    Esse tem rítimo, rima, tem agonia e paz... Uma mistura bem difícil de tecer!
    Seus textos me engrandece, me alimentam!

    Beijos^^

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  3. Estou eu aqui, a ouvir, Ludwig van Beethoven...
    a sua música, tranquilidade, desespero, tristeza, uma calma profunda...tudo junto, enquanto eu leio seu texto poético outra vez...

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