domingo, 25 de outubro de 2009

"POETA DE CHINELO"



Fico grato pelo poema dedicado a mim. valeu mesmo Ivan. Receber um poema criado pela mente fantástica do rei das metáforas é muito gratificante. Melhor definição que já fizeram de minha poesia: "poeta de chinelo" . Concordo plenamente (risos). Valeu!!

O Poeta

[ao Diego El Khouri]

No mundo da alucinose
não tem o quê e nem o onde
crianças giram no carrossel
a noite é o próprio céu

Da conserva concentrada
o porre doce-amargo
não é nada de bebida
é o uno gosto da lume

O lustre do saguão, todo amarelo
"Olha lá, o único de chinelo"
Desinibido pela vida, embalsama o quimero

O mórbido embrião
Suicída!--escuta quieto,
--o instinto de quem tem a vida--
O Poeta de chinelo.
(Ivan Silva)

MELODIA SERENA

Ouço um som suave...
Um suave som pela madrugada...
Som translúcido, diáfano
que me corta a alma...

Um som mudo, calado;
- canto orquestral de orgasmo -
cabeça leve, olhos parados...
Que som estranho é esse que invade a alma?

Ó Deus dos reinos incertos
trazei aos meus olhos
a forma real dessa melodia serena.

O canto dos pássaros
o gemido dos corpos eretos
penetrando sem dó na noite intensa.
14,08,2008

terça-feira, 20 de outubro de 2009

PASSIONAL

Beijo-te vagarosamente...
Do pescoço até a ponta da orelha.
Minha língua penetra tua alma.
Tua alma chora de mansinho.

Vou eliminando adjetivos
perdendo-me em substantivos.
No mundo subjetivo minto
que é verdade o que não acredito.

Você diz que não quer.
Finge que não ouve. Bebo
alguns drinks numa sede sem nome.

Mas só você ouvi: o barulho das taças,
a batida descompassada do coração
numa triste festa cheia de graça.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Meu querido poeta (A Antonin Artaud e seu Teatro do Horror)


Ó Antonin Artaud, tu és para mim
um anjo devasso, devasso de toda nobreza.
Embevecido em tua destreza
torna-me louco, bandido, profeta.

Que seu teatro se erga nos desvios
singulares poupados pela alma.
Sangue e vertigem (delírio). Ó tragédia
reina nos meus olhos tua beleza!

Ausente, mudo, nebuloso, fechado.
Ó grande solitário, grande porcaria.
Os dias passam! (carros em velocidade...)

Que seu teatro permaneça vivo assim como
Rimbaud, Verlaine, Drummond, Lautréamont,
sem que a paz cesse a voz do silêncio.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sem título...

Choro, choro atrozmente
a melodia sublime da Morte.
Desesperadamente, ensandecidamente
choro exibindo na barriga mil cortes.

Com o falo ereto, a mente turva
poeta báquico sinto-me devassado
por essa visão chula que é o refúgio
que tenho para a vida futura.

Se punhetas bati, bati só por não estar aqui
o calor que a noite proclama
e a voluptuosidade que tua voz chama.

A chama queimando nossos corpos.
Minha boca úmida na tua nuca.
Lágrimas escorrendo do meu peito nu.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Luz torpe

Essa luz que se apresenta perene
e torpe é voz de Deus clamando o povo
que prove de seu amor e na dor
reivindique a ventura que o homem não pode.

Igual Kant me submeto a essa sorte.
Ser para os outros um fracote.
Levantar os muros da virtude
e se perder irremediavelmente na solitude.

Creio assim como os anjos nessa verdade.
Que o ser humano possui paz na maldade
e na bondade a dor inevitável.

Mas mesmo perdido no mundo de ilusões
como Platão prefiro ser amável
com quem cospe na minha cara e corta meus braços.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Confessional

Eu quero ser a Morte e a ferida.
O veneno e a vacina.
Em vez de curar cutucar a ferida
no lombo de Deus, em nome da anarquia.

Eu quero ser a angústia e o pecado.
Quem está de "cara" e quem está chapado.
Ser a dor em suas maiores gradações.
A flor imunda que alimenta nações.

Eu quero ser o filho e o espírito.
A puta e o puto cínico.
O síndico do inferno e também do paraíso.

Ser um escravo de um burocrata louco.
Entrelaçado na divindade, encaixado num porco.
... Mas na verdade sou isso tudo e mais um pouco ...

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