segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Deserto

"Eu quero cantar, falar besteira."
Mandar à merda quem diz que a tristeza
é o único caminho nessa pobre leveza
que mergulho dia após dia.

Num copo de uísque ou nos contornos
lascivos de tuas coxas gentis
é noite febril o que quero mesmo sabendo
que minha vida mergulha no deserto.

Meio marginal, meio isso, meio aquilo,
meio tudo e meio nada,
ser apenas uma alma apaixonada,

criança etérea que mija na boca
pungente dos deuses subalternos
que dizem que a vida é uma merda.

sábado, 12 de setembro de 2009

A poética da lambida suja

Vou-me embora. Sinto-me Vago.
Jean-Paul Sartre

Eu lambo sebo de dente.
Não importa se é branco ou quente.
Lambo como quem alçança o infinito
lambendo partículas de saliva e lombriga.

Poeta de bermuda e chinelo havaiana.
Quero antes a poesia suja
que tenha em seu bioma
versos de uma existência chula.

Amarram os braços e a poesia chupa
melindrosas reticências fúnebres
de quem acredita mas duvida.

Duvido em tudo que você me diz.
Se você quer e não quer
não quero nem saber, vou-me embora daqui.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Entrevistando o poeta


Recebi nessa última sexta-feira dois fanzines enviados pelo escritor Glauco Mattoso. Um deles é um zine informativo chamado O Berro que está na oitava edição e que contém matérias bastante interessantes enfocando o mundo underground com maestria necessária que um informativo marginal deve ter. Nessa edição os membros do fanzine discorreram sobre anarquia, a influência da mídia na cultura, a evolução da escravidão e o surgimento das favelas no Rio de Janeiro.
Transcrevo aqui uma intrevista encontrada nesse fanzine com Glauco Mattoso feito por Fabio da Silva Barbosa.
A linguagem original mantenho, pois assim o poeta no começo da conversa adverte para que a sua "escrita não seja mexida". Diferente dos emails que ele me enviou e coloquei no blog; tive trabalho de corrigir cada um deles, perdendo o caráter original, portanto perdendo a qualidade. Coisa que não faria denovo.

Agora segue-se a entrevista:

Entrevistando o poeta
Por Fabio da Silva Barbosa

Ele é poeta, ficcionista, ensaísta, colaborou com diversos veículos de informações, como a inesquecível revista em quadrinhos Chiclete com Banana e tirou seu nome artístico da doença que o cegou. Sabem quem é? Não poderia ser outro, senão o grande Glauco Mattoso.

Como foi despertar para a arte?

Fallando em despertar, faço logo um alerta: só escrevo pela antiga orthografia e quero que minha escripta não seja mexida, certo? Accordei para a arte porque desde creança vi que minha janella para a vida commum seria fechada pela cegueira progressiva. Foi uma sahida existencial, uma escapatoria.

Qual o principal papel da arte em sua vida?

Antes de mais nada, evitar o suicidio, ou o alcoholismo, ou as drogas mais letaes. De quebra, a arte rendeu algum tesão... (risos)

O que é underground para você?

Para quem ja escreveu na peripheria e desde cedo foi sacco de pancada da molecada, ser "underdog" na vida ou "underground" na arte faz pouca differença... A marginalidade, social ou litteraria, veiu a ser meu proprio habitat.

Como foi trabalhar o alternativo na época da ditadura?

Por ser a unica via livre de censura, a imprensa nannica offerecia um illimitado universo creativo. Meu zine anarchopoetico, "Jornal Dobrabil", fez coisa que nenhum grande orgam impresso podia fazer em termos de linguagem, diagrammação, conteúdo, emfim, foi um vehículo de communicação de facto.

Glauco, careta em relação às suas obras?

Minha philosophia de vida é o paradoxo. Acho que todos somos poços de contradição, mocinhos e bandidos ao mesmo tempo. Portanto, nada de extranho no facto de eu ser mais louco como personagem que como pessoa.

Você se venderia para ter uma vida mais confortável?

Através da historia, e em muitas regiões do mundo, os deficientes foram escravizados ou tiveram que se prostituir para sobreviverem. Si eu tivesse na India, provalvemente seria massagista e chupador para ganhar o pão. Aqui posso me dar o luxo de ser massagista e chupador para ganhar inspiração nos sonetos ou contos... (risos) Mas isso não significa que eu assignaria contracto com uma editora commercial que me pagasse bem mas me exigisse radicaes mudanças de estylo.

O atual panorama político brasileiro e mundial segundo o poeta:

Ja versejei demais o scenario politico, particularmente no livro "Poetica na politica", e tenho commentado a respeito em minha columna na "Caros Amigos". Não ha o que accrescentar: fallar de merda sempre foi minha especialidade.

A tese que trocamos a ditadura militar pela do capital é verdadeira?

Sim, mas na verdade nunca a trocamos. A dictadura economica é permanente. Apenas a militar foi addicionada a ella durante aquelle periodo.

O ser humano se entregou à alienação?

Pode ser, mas ha varios typos de alienação, umas damnosas, outras gozozas. Phantasias sexuaes, mesmo as minhas, que são sadomasochistas, podem ser boa estrategia para compensar as difficuldades practicas. Ja a desinformação é a peor forma de alienação, da qual fujo como o Diabo da cruz.

Seu epitáfio.

Epitaphio? Vira essa boca pra la!
Não pensei ainda.
Talvez na hora de morrer eu decida.
Mas seria algo como "Aqui jaz alguem que jamais soube o que dizer da morte e só fallou mal da vida"... (risos)

*A foto é um desenho tirado do fanzine poético-panfletário Jornal Dobrabil

*entrevista retirada do fanzine O Berro. Blog:

http://www.rebococaido.blogspot.com/

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Orgasmo contido

De frente à privada olhos obtusos
de fronte à merda rala. Acabo
de receber voz cagada de deus
unindo-se à viagem confusa.

Fome, frio, sede, ânsia, volúpia.
Caralho inchado, olhos de cão.
Um pão vertiginoso de orgasmo.
Você vem contente à minha desgraça.

Cobrimos nossas vestes de cachaça.
Tua falsidade afasta
quem é voluptuosa de verdade.

Tumor alojado no peito apaixonado.
Entrego-me à devassidão macabra
comendo fezes numa tarde ensolarada.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Flores Pubianas


O olho é uma luz revestida de desejo
palavras alheias perdidas no tempo.
Terra selvagem, cabelo desfeito
você parada na minha frente
corpos em desalinho, noites inquietas.

Marinheiros perdidos no barco
à margem de uma existência vã,
crianças submersas em pútridos desfiles
lances de jóias e albergues fúnebres
à lua que se vai solitária
pelo tempo o todo se forma ao Nada.

Tonto e enlouquecido de nostalgia
livros dispersos sobre a escrivaninha
páginas destruídas de ira e tensão
só você em minha mente
só seu sorriso brilhando na escuridão
só seus lábios vermelhos e sensuais
na vasta imensidão.

Corpos contraídos, desencontrados
a chuva inundando gerações
agarro tua coxa, escondo meu passado
“A Morte ressurge” e a xingo
:essa nefasta dama que devora ilusões...
e a abandono e continuo contigo
livre de todo temor e raiva...

Gametas unidos, você linda
xamã em transe mediúnico
arcanjo em desejo e ventura
plácidas regiões de paz e carinho...
Flores pubianas

só o teu sorriso e nada mais!
só teus lábios, teus lábios
e nada mais!

Flores pubianas, noite quente
sempre um verso no bolso da calça
ontem não dormi, aliás permaneço
alheio as ordens e costumes
não dormi e isso é tudo!

Com uma faca te esquartejo,
arranco tuas tripas e teu talento
ó Morte, jovem dama nefasta...
A abandono e continuo contigo (só contigo)
Livre de todo temor e raiva
Livre até de mim mesmo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

As pegadas do amor

[A alguém especial]
Nas noites incrédulas onde anjos
tingem a noite de preto
você será meu amor insaciável,
ó anjo sublime de límpidos desejos.

Quero-te aqui comigo,
nua, desfeita em meus braços,
como a Morte, a Morte dentro do peito
agonizando na volúpia do amor.

Assim, assim mesmo
deixa-me adentrar teu ser,
mergulhar na loucura deste olhar.

Você - linda. Eu - louco.
Minha mão agarrada em tua coxa.
Pegadas desnudas em teu dorso.

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Sou um ser alienado na busca do Sagrado